Alguns fãs ainda optam por mandar cartas
RIO - Ser “campeão de cartas” já foi um título almejado e ostentado por muitos artistas. Os nativos digitais, acostumados a medir o sucesso das celebridades pelos seus milhões de seguidores, podem não acreditar, mas era assim que se determinava o sucesso de alguém na televisão. Hoje, é raro, mas há quem ainda goste de expressar sua admiração em papéis perfumados, com adesivos, desenhos e fotos coladas. A diferença é que as cartas, em sua esmagadora maioria, são uma maneira de expressar amor pelo ídolo. E uma forma de comunicação unilateral. Quatro anos depois da explosão de redes sociais como o Twitter, entre uma gafe e outra, as estrelas aos poucos estão se adaptando ao novo modelo, aprendendo a ouvir desaforos e a se relacionar com seus fãs.
À frente do “CQC”, da Band, Marcelo Tas diz que, para quem trabalha com o público, estar nas redes sociais não é mais opcional.
E acrescenta que é preciso ter menos preconceito e mais coragem para se expor:
— Essas ferramentas sugerem milhares de caminhos a serem descobertos para quem tem interesse em aperfeiçoar a qualidade da comunicação com o público.
Tas, que possui blog há oito anos, site, Facebook e Twitter — no qual tem mais de dois milhões de seguidores —, ao mesmo tempo frisa que é importante impor limites.
— Uso uma regra simples. Não falo na internet o que evitaria falar em voz alta em público. O que escrevo não tem a ver com aminha vida pessoal — pontua ele, que mudou até um hábito a pedido de uma fã.
O jornalista conta que recebeu em seu blog o apelo da jovem Amanda, do Ceará, no qual ela dizia que sua mãe não a deixaria mais ver o “CQC” por causa dos palavrões ditos na bancada. Sensibilizado, ele imprimiu o comentário, levou para os outrosintegrantes da atração e a menina foi atendida. Um tempo depois, durante uma palestra em Fortaleza, o apresentador encontrou a garota e sua mãe na plateia:
— Internet não é rede de computadores, mas de pessoas que usam computador. Vale a pena ouvi-las com atenção e respeito.
Luciano Huck sabe bem disso. Com mais de 4,5 milhões de seguidores no Twitter e com 5 milhões de pessoas “curtindo” a sua página no Facebook, o apresentador procura sempre transformar o que lê na web em pautas para o seu programa.
— Na relação entre artista e público, as redes sociais são uma releitura dos programas de rádios ao vivo. Resposta rápida, quase instantânea. Para nós, no “Caldeirão”, isso também é uma eficiente fonte de pesquisa — explica.
Fonte de pesquisa esta que pode render um assunto importante para uma atração de TV como também pode apenas decidir que modelo de gravata um jornalista deve usar no ar. Chamado de “tio” entre os tuiteiros de plantão, William Bonner compartilha momentos de sua vida com seus mais de 2,5 milhões de fãs. Eles não só já opinaram no seu figurino como também, na últimasemana, o viram de um jeito bem mais descontraído do que aparece na bancada do telejornal, com água na boca diante de uma bandeja de brownie.
Intérprete de Dieguinho, em “Malhação”, Pedro Bernardo reconhece que o respeito é primordial nesta relação. Após a entrada na novela, seus seguidores no microblog passaram de 600 para 18 mil, o que gerou uma certa preocupação para o ator.
— Tenho que ter a noção de que estou falando com muita gente. Por isso, me policio. Paro e penso antes de escrever e evito entrar em discussões ou polêmicas — ensina ele, com 5 mil amigos no Facebook.
Para Pedro, que também é músico, o artista precisa aprender a selecionar não só o que escreve, mas também o que lê. Afinal,críticas também vêm em enxurrada na tela do computador. Segundo ele, o negócio é filtrar as informações:
— Tem gente que faz elogios, mas tem gente que fala mal e adora criticar. E, na internet, tudo acontece de forma muito direta.
Do elenco de “Rebelde”, na Record, Lua Blanco garante que sabe separar bem a vida pessoal do que escreve para seus mais de 700 mil seguidores no Twitter. Embora seja viciada na ferramenta, ela procura manter ao máximo a discrição. A atriz, que geralmente acessa sua página pelo celular durante as gravações, ainda se impressiona com a rapidez com que os fãs lhe exigem um posicionamento:
— Eles perguntam a primeira vez. Aí, se não respondo, mandam 100, 200 vezes. Ela ainda dá uma atenção especial às cartas que chegam de várias partes do país. E até de fora do Brasil. E não são poucas. A atriz recebe, em média, 400 delas por mês.
— Muita gente ainda senta para escrever. Elas são carinhosas, mandam desenhos, fotos, esmaltes... Outro dia, eu disse que gostava do Coldplay e me mandaram uma blusa deles — impressiona-se ela, que jura guardar absolutamente tudo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário